Quando se fala de regras e disciplina para as crianças, frequentemente ouço este desabafo: “O que ele precisava era de umas palmadas”, usualmente completado com “muita tareia de cinto levei eu em criança e não morri por isso”. Acredito que hoje em dia, os castigos corporais devem ser evitados. Uma “tareia de cinto” não leva a criança a aprender nada a não ser como esconder o cinto do pai ou como evitar essa tareia, nem que para isso tenha de recorrer às mentiras. Bater numa criança não é uma atitude respeitável. Mostra que os pais são maiores que a criança (algo que não dura para sempre) e que a violência é uma forma de resolver problemas. Não vivemos hoje numa sociedade já por si violenta?

Afinal que tipo de educação queremos dar às nossas crianças? O objectivo da disciplina é ensinar, neste caso a criança, a controlar-se sozinha. A força não contribui para tal. Se os castigos corporais podem pôr fim a um comportamento inadequado, apenas é eficaz durante algum tempo e enquanto o educador estiver presente. Este tipo de castigos provocam na criança dor física, ao mesmo tempo que reforçam a ideia de que “sou maior do que tu e não te respeito”. Assim tratada, a criança afasta-se do educador e esconde-se numa concha de revolta. A todos que já levaram a tal “tareia de chicote do pai e não morreram” peço que recordem o que sentiram nesse momento, peço que recordem a vergonha, a revolta e o ressentimento que sentiram para com o pai e peço que tentem se lembrar do que aprenderam com essa tareia, será “nada” a resposta?

            Os pais batem nas crianças sobretudo quando estão fora de si. A situação não ensina nada à criança. Ao aplicarem castigos corporais, os educadores dão à criança a ideia “vais portar-te bem porque eu te obrigo, porque és fraca”. Estas mensagens não preparam a criança para o futuro em que os pais estarão ausentes ou já não possam discipliná-la. Num mundo violento, não podemos dar-nos ao luxo de as disciplinarmos sem lhes darmos razões melhores e mais duradouras para assumirem a plena responsabilidade pelo seu comportamento.

            Chegou a hora de mudar o ditado, para algo mais difícil de levar à prática mas essencial para qualquer educador – menos disciplina e mais mimo.  

 
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