A aspiração a um corpo perfeito, mesmo que apenas nesta fase do ano, invade a mente de muitos. Em busca de um ideal de beleza fazem-se sacrifícios, por vezes com consequências impensáveis… Praticam-se hábitos alimentares que são ignorados nos restantes meses do ano. Proliferam os anúncios a produtos de beleza, as sugestões de dieta e os ginásios enchem. Procuram-se resultados imediatos e esquece-se que a alma não se alimenta de obsessões…

 

Relacionado com o desejo de perfeição e culto do corpo encontram-se no campo da psicopatologia algumas perturbações, nomeadamente a anorexia e a bulimia nervosas. Neste sentido, perfeccionismo, baixa auto-estima, preocupação excessiva com a imagem corporal e com as avaliações dos outros são aspectos geralmente característicos da personalidade destes doentes. É nas mulheres, socialmente mais sujeitas a modas, que encontramos os alvos privilegiados destas perturbações, sendo do sexo masculino apenas 5 a 10% dos doentes.

Apesar de relacionadas entre si, anorexia e bulimia têm características específicas que possibilitam um diagnóstico diferenciado.

A anorexia nervosa caracteriza-se pela recusa em comer, fundada psicologicamente num medo profundo e intenso de ganhar peso, mesmo que este se encontre já abaixo do normal para a idade e estatura. Associada a esta situação existe uma perturbação da imagem corporal, em que o doente se vê gordo, apesar da sua magreza extrema.    

        

Na bulimia encontramos episódios recorrentes de voracidade que caracterizam esta perturbação, em que ocorrem períodos de ingestão excessiva de alimentos num curto espaço de tempo, relacionados com dificuldades de controlo dos impulsos. Como forma de evitar o aumento de peso, em consequência deste consumo excessivo, segue-se um comportamento compensatório inapropriado (vómito auto-induzido, uso de laxantes ou diuréticos, jejum ou exercício físico intenso) que visa o impedimento de ganho de peso.

 

Estas perturbações surgem principalmente na adolescência, em que a vulnerabilidade à apreciação dos outros é maior. No entanto, a bulimia tende a manifestar-se mais tarde do que a anorexia (16-25 e 12-18 anos, respectivamente). Outra diferença relaciona-se com o peso do doente. Enquanto que na anorexia há um decréscimo de, pelo menos, 15%; na bulimia o excesso de peso é mais frequente, bem como oscilações de cerca de 6 kg, o que torna esta última perturbação mais facilmente camuflada. Contudo, em ambos os casos há sinais de alarme aos quais podemos estar atentos.

 

No doente anoréctico os alimentos como pão, arroz, massa, batatas, grão, vão sendo gradualmente colocados de parte. A comida é cortada em pedacinhos que sobejam no final da refeição. As porções de alimentos ingeridos tornam-se cada vez mais diminutas e começa a comer todos os dias a mesma coisa, da mesma maneira, tipo robot. Prepara comida para os outros mas não come, com a desculpa de que se sente enfartada e passa a usar roupas muito largas e em várias camadas, tanto para esconder a magreza como para se proteger do frio que o corpo começa a não suportar.

 

No doente bulimico são sintomáticas as ingestões de grandes quantidades de comida sem se verificar excesso de peso; o hábito de se ausentar logo de seguida às refeições, por exemplo para ir à casa de banho; a toma de laxantes sob a forma de chás e as conversas frequentes sobre comidas dietéticas.

 

Uma parte da intervenção nestas situações passa por fornecer competências para lidar com a imagem corporal, contribuindo para a desvalorização das apreciações negativas e abdicação de uma imagem ideal, tarefas muitas vezes boicotadas pelo culto do corpo que caracteriza a sociedade actual… Importa então recusar o falso ideal de um corpo vazio em prol da beleza saudável e do bem-estar físico e psicológico, quer sejamos cheiinhos, delgadinhos ou assim, assim…

 
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